quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Temos o mundo inteiro no nosso quintal

Já escrevi alguns artigos científicos sobre o tema da sociedade da informação e do conhecimento. Aliás, escrevo sobre isso desde 2005. Mas, desde então, fico me perguntando como o nosso país está tratanto o tema. Se pensarmos que vivemos numa sociedade do conhecimento temos que considerar, necessariamente, a existência de diversos espaços de aprendizagem.
Nesse momento,  o principal espaço de aprendizagem que me vem a mente, apesar de existirem vários e não menos importantes, é a escola. Outro aspecto importante a ser considerado é a necessidade da presença de computadores (ou outros dispositivos semelhantes) e a internet nesses espaços. Fica difícil imaginar um ambiente de aprendizagem sem o uso de tecnologia, tanto para pesquisa como para a confecção e comunicação dos trabalhos.
O questionamento que me preocupa é sobre como nós estamos tratando esse assunto na prática. Nossos professores, alunos, e até mesmo a sociedade, estão tratando o assunto de forma coerente?
Antes de começar a discussão adianto minhas hipóteses. A primeira delas é que as crianças de hoje possuem um comportamento diferente frente aos desafios da aprendizagem. Primeiro, porque elas vivenciam um ambiente interativo, notadamente por influência dos jogos eletrônicos, e em rede, e também pela internet. Esses ambientes lhe proporcionam claramente a busca pela descoberta, pelo explorar e investigar e, somado a isso, estão as redes e a interatividade, que moldam as decisões em torno do compartilhamento. A segunda hipótese que parto é pelo não julgamento da atual configuração existente, ou seja, não estou aqui para discutir se isso é bom ou ruim, apenas apresentar o cenário como um fato.
Assim, para observar melhor como os professores e as escolas estão encarando o atual cenário usarei os dados da pesquisa realizada pelo CETIC Educação em 2010, divulgada em Agosto deste ano.

As limitações para o uso pedagógico
1º Número insuficiente: Em média o Brasil possui 23 computadores instalados e apenas 18 em funcionamento por escola, sendo que a média de alunos por escola é algo em torno de 800 alunos.
2º Ausência de suporte e manutenção: 49% dos entrevistados disseram que não possuem suporte e manutenção nos equipamentos.
3º Baixa velocidade de conexão com a internet: 49% responderam que a internet é muito lenta.
4º Equipamentos desatualizados: 41% disseram que os equipamentos são antigos.

Onde os computadores estão
% sobre o total de escolas com computadores instalados e sobre o total de escolas.
Sala de informática: 81%
Sala de aula: 4%
Biblioteca: 38%
Sala dos professores: 58%
Sala do coordenador: 88%

Locais onde as atividades envolvendo tecnologia são realizadas
Sala de informática: 80%
Sala dos professores: 21%
Sala de aula: 18%
Biblioteca: 8%

Capacitação dos professores
64% dos professores concordam que os alunos sabem mais de computador e internet do que eles.

Professores que possuem e usam o computador e internet
86% possuem computador de mesa
40% possuem portátil
81% possuem internet em casa
41% levam o computador para escola

Frequência das atividades realizadas em aula
Apenas 15% usam a internet, livros ou revistas uma vez no dia ou quase todos os dias

Uso com computador e internet em atividades realizadas com os alunos
23% usam para prática de fixação do conteúdo
23% usam para interpretação de textos
22% para realização de debates
18% para apoio individualizado como forma de repor os conteúdos perante a sala
8% conversas com os pais / monitoramento da aprendizagem

Conclusão e sobre o título
Nosso principal espaço de aprendizagem está esquecido por aqueles que dizem que o Brasil já está inserido na sociedade do conhecimento e da informação.
Distribuir computadores para a sociedade sem antes planejarmos como a educação irá inserí-los no contexto é não realizar algo chamado de educação.
Indo além, faço aqui uma alusão a série "The Backyardigans": Temos todo um cenário de infraestrutura tecnológica e internet não sendo levadas em consideração pelos gestores públicos que podem num futuro próximo revelar sérios problemas como já estão mostrando (produção e interpretação de textos é uma delas). Não tratar a internet e as tecnologias como terreno fértil pode nos submeter para uma inversão de valores onde o mercado irá nos mostrar o caminho. Temos que usar a imaginação, planejar e inserir as práticas pedagógicas existentes neste novo terreno. Como diriam Pablo, Uniqua, Tyrone, Tasha e Austin: "Temos um mundo inteiro em nosso quintal"



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Um comentário:

  1. Parabéns Paulo!

    Percebemos que, embora estejamos vivendo a era do conhecimento, a tecnologia que permeia a nossa vida não está presente nas salas de aula. Ainda ensinamos da mesma maneira que 100 anos atrás!
    No Brasil, é obrigatório investir 25% do orçamento em Educação. Mas apenas comprar computadores não resolve. O caminho é longo e árduo, mas alguém precisa tomar as rédeas da Educação no Brasil e mudar os paradigmas. E não acho que será neste Governo da Dilma que isso ocorrerá. Uma pena. Quanto mais tempo passa, mas tempo perdemos. O Brasil só desenvolverá economica e socialmente se o seu povo se desenvolver intelectualmente. E isso só é possível pela Educação.

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